E tem coisa ainda pior... bandas que vão se copiando... vem uma banda, ae vem a cópia, a cópia da cópia e por aí vai!
Por esses e outros motivos não existe nada mais prazeroso que escutar uma banda nova, de idéias novas e muito criativa... esse é o caso do ASFIXIA SOCIAL.
Confira a entrevista que fiz com o vocalista da banda, Kaneda.
Humildade total!
P.S. Todas as fotos da banda são minhas, então não repare pois não sou fotografo!
Contos- Eae Kaneda, valeu pela entrevista.
Kaneda- Salve Doug, tamo junto irmão. Obrigado pelo convite e pelas fotos do Punk na Páskoa!
Contos- Conte um pouco como surgiu a banda, a trajetória da banda do início até hoje e fale também sobre a formação atual.
Kaneda- Cara, o Asfixia Social surgiu como uma necessidade, uma forma de centrar e expressar as energias, a angústia e a indignação de uma molecada que cresceu se divertindo em brincadeiras de rua, típicas de qualquer periferia ou bairro humilde de uma grande cidade no Brasil.
Eu vinha de uma frustração bem comum de moleque que vive pra jogar bola. Já o Arcenio (baixo/voz) – que era goleiro – aparentemente não se importava tanto, mas eu cresci com esse sonho, passei pelas bases de times do Brasil, cheguei até a ir pra Europa e África, mas com as dificuldades, presenciei o lado político e sujo do futebol. Isso foi o estopim para que eu voltasse pro Brasil e continuasse a escrever à sério sobre aquelas questões que me incomodavam desde pivete, quando via a injustiça até mesmo dentro de campo, onde teoricamente eram apenas onze contra onze.
Em outubro de 2007, tentei formar a banda com o Rafael “Fanfarrão”, amigo de infância meu que não tinha tempo pra nada, além de trampar. Nessa época conheci pela internet o Rômulo – guitarrista da 1ª formação – que era amigo do Yuri – baterista da 1ª formação – e que haviam acabado de conhecer o Arcenio – isso, o baixista – por indicação de outro amigo, o Davi “Kavera” (que ainda não tinha função na banda).
Os caras eram todos ali do Belenzinho, já tocavam há um tempo, e eu já tinha umas dezenas de letras e um trompete, apesar de nunca ter tocado. Nos conhecemos, tocamos um dia e deu certo, e então passamos a ensaiar todo dia na casa do Yuri, e já em novembro o Asfixia Social começou a fazer shows por onde abriam espaço com a seguinte formação: eu/voz e trompete, Arcenio/baixo, Rômulo/guitarra e Yuri/bateria.
Em fevereiro de 2008 lançamos a demo da música “A guerra tá na tua porta, não só em Bagdá!” – que acabou dando nome ao nosso primeiro álbum – e em abril, ou seja, 6 meses depois, já estávamos em um “home studio” da minha vila, em São Bernardo do Campo, gravando as 13 faixas que entraram naquele CD.
No meio disso tudo, a gente também tava fazendo o corre de grana pra poder pagar o cara do estúdio, e como ninguém tinha nada, uma amiga da mãe do Yuri indicou o Programa de Valorização a Iniciativas Culturais (VAI), da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Enviamos um projeto no último dia de inscrições.
No fim das contas, o Yuri quis sair da banda, e o projeto não havia sido aprovado. A gente foi pra casa meio desnorteado mas, pra nossa surpresa, um outro projeto foi desclassificado do VAI, e por falta de opções na região do Belém, chamaram a gente da lista de espera. Então, continuamos as gravações do “A Guerra tá na tua porta, não só em Bagdá!” e “caçamos” o “Pato” (batera do Asfixia) na internet, pra substituir o Yuri.
Nessa época, eu toquei trompete numa outra banda, que não durou mais que o primeiro show, quando eu e o percussionista “Tato” decidimos sair do grupo. Foi quando ele colou num ensaio do Asfixia Social e passamos a ser 5 integrantes: eu/voz e trompete, Arcenio/baixo, Rômulo/guitarra, Pato/bateria e Tato/percussão. Fizemos bons shows e lançamos o CD com essa que foi a segunda formação da banda. Foi muito louco porque o Pato tinha uns 15 anos, e o Tato uns 40, mas todo mundo 100% engajado no projeto.
No início de 2009 o Rômulo saiu da banda e deu lugar ao Rafael, que já não estava trampando tanto quanto antes, comparecia a todos os shows da banda, e assumiu a guitarra/voz. Foi nessa época que o Asfixia Social deu continuidade ao projeto do VAI e fez a “Turnê Asfixia Social 2009” pelas ruas da cidade, em pistas de skate e praças, tudo no esquema Do It Yourself, ao lado de grupos como Organização Jihad Racional, Agrotóxico, Invasores de Cérebros, Lobotomia, Lei di Dai e outros, já com a terceira formação: eu/voz e trompete, Arcenio/baixo, Rafael/guitarra, Pato/bateria e Tato/percussão. Foi essa mesma formação que correu atrás de organizar os mais de 10 shows, carregar caminhão, montar palco, som, iluminação, colar cartaz e “lambe-lambe” na cidade toda, etc e tal.
Neste mesmo ano a banda ganhou uma certa visibilidade, fomos para a segunda prensagem (2.000) do álbum “A Guerra tá na tua porta, não só em Bagdá!”, e dividimos o palco com BNegão & Os Seletores de Frequência e Z’África Brasil, num show animal chamado “Caçadores de Racistas”, unindo no palco o Asfixia Social e a Organização Jihad Racional.
Logo no começo de 2010, com a saída do Tato da percussão, o Kavera assumiu a “função” de percussionista, que agora existia. Aí, já sem apoio do VAI ou algo assim, passamos a compor o “Da Rua pra Rua” sem aquela pressão dos prazos corridos que tínhamos antes. Nessa mesma época, já com o Asfixia envolvido no projeto do Núcleo de HipHop Zumbi, Malcom-X, Luther King e Mandela (Zumaluma) ao lado do meu parceiro Vulto (ou Kaab, do Jihad Racional), assumi a vice-presidência da Zumaluma.
Foi um ano de extrema importância pra banda, em que conseguimos expressar musicalmente, no “Da Rua pra Rua”, tudo aquilo que o “A Guerra tá na tua porta, não só em Bagdá!” prescrevia. Ao mesmo tempo, trouxemos uma identidade forte que envolveu tanto o público rap quando o punk, que musicalmente é muito conservador. Isso se confirmou nos festivais de rap e hiphop pelos quais passamos, bem como no Punk na Páskoa de 2010 e 2011.
Ainda, é importante dizer que, além dos palcos, consolidamos a prática dos projetos do Asfixia junto ao Jihad com a Zumaluma, que hoje tem mais de 12 anos de história e grande importância não só pra comunidade do Embu das Artes, mas pra toda cena de resistência cultural e contestação. Entramos em estúdio com o apoio do Marcos (guitarrista do Agrotóxico/Olho Seco) e do Marcelo Sampaio (produtor do Moleque de Rua) em janeiro de 2011 pra gravar o “Da Rua pra Rua”, que será lançado pela RedStar Recordings (selo do Jeferson/Agrotóxico e Flicts) em julho de 2011. O álbum também estará com as músicas “Consumismo Cerebral” e “A Banca” no DVD do Punk na Páskoa 2011, que contou com a participação especial da trombonista Binx!
É um álbum mais que especial pra gente, que reflete toda a história da banda! Esperamos que agrege muita gente nessa nossa luta por uma identidade verdadeira da cultura de rua, que represente as quebradas e a periferia no seu sentido amplo e real.
Contos- Quais as principais influências da banda?
Kaneda- O refrão da “Da Rua pra Rua” diz: “o som é da rua, sem fronteira demarcada. Protesto consciente construindo a Intifada!”. Na real, as influências da banda são uma mistura de estilos, como rap, hardcore, ska, punk, metal e ragga, do Brasil e da gringa, que têm em comum temas que remetem ao ativismo do nosso povo na sociedade, sua luta pelo poder pleno contra governos opressores, pela liberdade e vida.
Contos- Fora o Asfixia Social, alguém na banda tem algum outro projeto ou banda?
Kaneda- O Kavera é percussionista de uma banda marcial ligada à cultura escocesa, chamada Brasil-Caledônia Pipe Band e vocalista do UltraViolência (metal). O Pato é professor de bateria em algumas escolas em São Paulo, assim como o Arcenio, vira e mexe toca em outros projetos e bares.
Contos- Fale um pouco sobre o projeto Zumaluma. Aproveite para comentar sobre o festival que vai rolar em julho, Resista Para Existir.
Kaneda- O Núcleo de HipHop Zumbi, Malcom-X, Luther King e Mandela (Zumaluma) foi fundado em 1998, na Favela do Inferninho, e é referência da cultura de rua para centenas de crianças e adolescentes da região do Embu das Artes. Lá, organizamos festivais, eventos de reggae, punkhc, hiphop, samba, e outras manifestações da cultura periférica, além de mais de uma dezena de cursos voltados à formação educacional e sócio-cultural da comunidade, gratuitamente.
O projeto gira em torno do mesmo ideal da banda, que é fortalecer e construir uma identidade cultural que aproxime o jovem e a comunidade de um estilo de vida próprio, a nossa própria cultura, linguagem, expressão e comprometimento com a verdade.
A Zumaluma é hoje a casa da banda e do Jihad Racional, e o Festival Resista Para Existir vai rolar no dia 23 de julho, reunindo bandas de peso e de importância para a cena hardcore punk, além de vários amigos. Durante o ano, são vários eventos, e em agosto rola o “Agosto Negro: HipHop Resistência é Existência”, por exemplo, que é a versão hiphop do festival. O intuito disto tudo é convergir todas as manifestações de resistência cultural, de diversos estilos, em um projeto social na prática, que é a Zumaluma.
A molecada precisa crescer com uma referência de postura na sociedade, para não se curvar às tendências e valores que a gente vê por aí, cada vez mais deturpados, e se envolver com o desenvolvimento de sua própria quebrada. Quem quiser chegar, fica ligado no www.zumaluma.org.
Contos- Asfixia é uma banda relativamente nova, quais as dificuldades em ser uma banda underground?
Kaneda- Na real, os obstáculos pra quem começa no underground geralmente são aqueles que praticamente não existem pra quem tem grana no bolso, pessoas que, em sua maioria, não se envolvem com esse tipo de som. É uma questão social do nosso país mesmo, e se você colocar no papel ensaio, bom instrumento, produção e gravação, acaba saindo bem caro pra rapaziada mais humilde que tá começando. Ainda, ter todos esses elementos ao mesmo tempo é tão raro quanto um eclipse, e por isso muita banda caminha em marcha lenta, ou não vai pra frente, fora que shows só começam a dar um pouquinho de retorno depois de um tempo.
No Asfixia Social ou na Zumaluma, particularmente, a gente sempre fez um corre monstro pra poder viabilizar as coisas, e até hoje é assim: passamos perreio, sacrificamos aqui pra salvar ali, e tentamos usar as poucas ferramentas que temos à disposição pra multiplicar. É preciso ser inteligente, verdadeiro com as paradas, saber onde tá pisando, ter persistência e meter a cara!
Contos- O som de vocês é muito bem feito e muito bem trabalhado com direito aos metais e tudo, você acha que tem espaço no mainstream para a banda apesar das letras de forte apelo social? Ou não existe mais lugar na mídia para bandas inovadoras e criativas?
Kaneda- Cara, acho que o som da banda reflete aquilo que a gente vive 100%. Tanto o som e as letras quanto a atitude da gente no dia-a-dia. Buscamos sempre o nosso melhor para chegar às pessoas com uma mensagem que possa fortalecer sua vontade de lutar e vencer sua correria diária. É assim conosco também, em Diadema, São Bernardo, Cangaíba, no Belenzinho, no Livieiro, no Embu das Artes ou em qualquer lugar.
Existe espaço na mídia sim, apesar de não ser uma prioridade pra banda e de sabermos que nosso comprometimento é com a verdade, e não com as tendências que os caras criam/seguem. Um veículo de comunicação, um apoio cultural ou um edital são ferramentas que podem ser utilizadas com inteligência. É burrice ficar nesse lance de gueto. O Asfixia Social vai chegar onde puder chegar, sem desvirtuar seu real propósito como representante da cultura de rua, da resistência estampada no nosso estilo de vida, periferia e na verdadeira história do nosso povo.
Contos- Pelo que pude perceber vocês são uma banda com letras bem politizadas. Como você vê a situação política no Brasil?
Kaneda- A política é reflexo do nosso povo, que vota Maluf porque quer ser Maluf, se inspira nele pra fazer merda no dia-a-dia. Além disso, somos outros milhões de ignorantes, tipo Tiririca, que ri da própria desgraça, que rouba pouquinho e acha que não pega nada, que se esconde atrás da mentira e se acovarda.
É preciso que as pessoas de bem ocupem os espaços na sociedade e que não deixem que aparelhos públicos se tornem aparelhos de tal partido ou patota política. Devemos tomar a frente da construção do conhecimento na nossa quebrada, porque ninguém sabe melhor da realidade do que nós que vivemos a realidade.
Muita gente tem preguiça de começar a fazer isso, mas quando começa, não pára, porque vê que é isso que dá sentido à vida. Vê que o fim do mundo só existirá pros que acreditaram no fim do mundo.
Contos- Vocês já dividiram palco com várias bandas fodonas, qual o show mais animal que vocês já fizeram?
Kaneda- Acho que o show mais visceral foi quando fizemos o lançamento da turnê Asfixia Social 2009, no CCPC da Consolação. Outros shows que marcaram foram o “Caçadores de Racistas” (2009), com o Jihad Racional e o Z’África Brasil, e este último, do Punk na Páskoa 2011, em que a galera não sabia como reagir. Foi foda!
Contos- Quais os planos da banda para o segundo semestre de 2011?
Kaneda- Em julho lançamos o “Da Rua pra Rua”. Até o fim do ano, saem uns 3 clipes da banda. Serão poucos os shows, e algumas surpresas virão...
Contos- Pra quem quiser conhecer mais sobre a banda, ouvir os sons e entrar em contato, como faz?
Kaneda- O site oficial da banda é www.asfixiasocial.com.br, que contém nossa história até o começo de 2010. O novo site tá pra entrar no ar, no mesmo endereço, com o lançamento do nosso novo álbum “Da Rua pra Rua”, em julho, pela www.RedStar77.com!
O e-mail da banda é asfixiasocial@asfixiasocial.com.br. O contato da produtora dos nossos shows é www.glockcultural.com.br. O site da Zumaluma é www.zumaluma.org.
Contos- Kaneda, valeu mesmo meu brother e pode mandar seu recado ae cara!
Kaneda- Firmão meu mano, nós é que agradecemos pela oportunidade. Agradeço, desde já, a todos que terão a paciência de ler até o final e a todos que tão pra somar com a gente nessa caminhada. Nos vemos nos shows e na Zumaluma, firmeza total! Paz.